segunda-feira, 24 de março de 2014

21 de março: Dia Internacional de luta pela eliminação da Discriminação Racial / Lançamento da Marcha das Mulheres Negras

O 21 de março é o Dia Internacional de luta pela eliminação da Discriminação Racial. Foi instituído pela ONU para lembrar o massacre de Sharpeville, ocorrido em 1960 na Cidade de Joanesburgo, na África do Sul. No dia 21 de março daquele ano, durante uma manifestação pacífica, 69 pessoas morreram e 186 ficaram feridas atingidas pela polícia do regime de apartheid. À época, a população negra protestava contra o uso obrigatório de um cartão que indicava os locais onde era permitida a sua circulação.

Foto: Anamaria Nascimento/DP/D.A.Press.


Em Recife, o dia foi lembrado pelas mulheres que estão à frente da Organização da Marcha das Mulheres Negras. Cujo lançamento oficial para imprensa aconteceu na manhã da última sexta-feira (21/03/2014), na sede do SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia, no Bairro da Madalena.
Várias representantes de instituições e organizações, assim como diversos profissionais da imprensa, se fizeram presentes no local. A exemplo da Sociedade das Mulheres Negras de Pernambuco, da Casa da Mulher do Nordeste, da Coordenação das Mulheres de Terreiros de Pernambuco, do Sindicato das Empregadas Domésticas, do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UFRPE, do GT Racismo PMPE, entre outros/as.
O grupo vem se reunindo quinzenalmente desde fevereiro de 2014.
A próxima reunião será no dia 05 de abril de 2014, na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), na Rua General José Semeão, 39, Santo Amaro. Os encontros continuarão acontecendo de 15 em 15 dias. 
A ideia da marcha surgiu há dois anos e a pretensão das organizadoras é reunir 100 mil mulheres de todo o país em Brasília, no dia 28 de setembro de 2015, dia da Mãe Preta. Personagem brasileira ocultada da história oficial ensinada nas escolas.
Confira a Carta das Mulheres Negras Pernambucanas:

CARTA DAS MULHERES NEGRAS PERNAMBUCANAS
rumo à Marcha das mulheres negras brasileiras contra o racismo, violência e pelo bem viver

Nós mulheres negras pernambucanas somos hoje mais da metade da população feminina do estado de Pernambuco. Aqui somos muitas e diferentes em nossas identidades, jeitos de ser, fazer, produzir, nos relacionar e (re) existir. Somos, sobretudo, herdeiras de uma ancestralidade que há séculos luta e resiste contra o racismo, o sexismo e a pobreza.

Nesse processo de construção da Marcha mantemos a luta de nossas avós e mães denunciando que somos violentadas cotidianamente pelo racismo, sexismo e capitalismo que se espraia pelas instituições, legislações, práticas de trabalho e chega às nossas vidas cotidianas, no interior de nossas relações interpessoais.

Estes sistemas de opressão e exploração se presentificam em nossas vidas pela história da violência escravocrata não contada; pela nossa subrepresentação nos espaços de poder e nos processos da economia, da política e da cultura; pelos impedimentos de usufruirmos das riquezas produzidas pelo trabalho de todas as pessoas, inclusive de nós mesmas e de nosso povo enfim, pela negação cotidiana de nossa humanidade, força que nos explora, oprime e constrói em nós subjetividades inferiorizadas e resignadas.

Ainda hoje nós mulheres negras fazemos parte da maioria das mulheres que educa, alimenta e cuida de toda a humanidade gratuita e/ou mal remuneradamente. Em Pernambuco isso não é diferente. Somos as que estão nos trabalhos mais precários e de menor remuneração; as que mais morrem pela violência doméstica e por males evitáveis - anemia falciforme, hipertensão, morte materna, aborto, entre outras e as que sofrem desproporcionalmente as consequências socioambientais negativas dos processos de desenvolvimento. Somos ainda subrepresentadas no Congresso Nacional e nos demais espaços de poder político institucional, somos enfim, o maior contingente de trabalhadoras domésticas do país, única categoria de trabalhadoras que não tem garantido, na prática, todos os direitos dessa condição.

Sobre nossos corpos (e nossas almas), as marcas do racismo são impingidas de forma mais nefasta porque articuladas com os prejuízos de sermos mulheres. A pobreza, a sujeição, os atributos de desonestidade, feiura, sujeira, incapacidade e desinteligência nos são referidos pela relação entre nosso sexo e a cor da nossa pele, os traços de nossos rostos, a textura de nossos cabelos e os jeitos diferentes de ocuparmos o mundo.

Nós temos direito de sermos o que somos e de sermos o que poderíamos e desejaríamos ser! E é por nós, pela manutenção da memória de luta de nossas ancestrais, pelo direito de ter um presente digno e feliz, e pela responsabilidade de construir um bem viver e um lugar de humanidade no futuro para nós e nosso povo e um mundo melhor de se viver para todas as mulheres e homens, que nos colocamos em Marcha.

Recife, 21 de março de 2014
Dia Internacional de Eliminação da Discriminação Racial
Pré-lançamento da Marcha das Mulheres Negras em Pernambuco
Fonte: CUT-PE
Criado por: Fabiana Coelho e Postado em: 21/3/2014 17:20:24

GT Racismo PMPE: presente nos eventos que buscam a igualdade racial! 
GT!!!

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